terça-feira, 16 de abril de 2024

MÃES O MUSICAL de Sue Fabisch

Confesso que, apesar de ser um apaixonado por musicais, nunca tinha ouvido falar deste musical. Com o título original de MOTHERHOOD THE MUSICAL, teve a sua estreia no Outono de 2010 em Fort Lauderdale nos Estados Unidos, onde foi um sucesso imediato e depressa foi à conquista de novos públicos, chegando agora a nós. E ainda bem!

A história é muito simples. No “baby shower” de Ana (Raquel Tillo) as suas três melhores amigas, todas já com crianças, partilham as suas experiências, frustrações e desejos, enquanto dão todo o apoio à sua amiga grávida. Uma delas, Patrícia (Tânia Alves), é dona de casa (mas não lhe digam isso) e tem muitas crianças; Beatriz (Gabriela Barros) é uma advogada que tenta equilibrar a sua vida profissional com a familiar e Cristina (Ana Cloe), recentemente divorciada, está a tentar a adaptar-se a ser mãe-solteira.

Os diálogos e as letras das canções são plenos de graça e o encenador Ricardo Neves-Neves imprime um ritmo alucinante à acção, com pequenos momentos de calmaria, que servem para o elenco recuperar forças e nós o folêgo de tanto rirmos. Sim, preparem-se para rir do princípio ao fim, com gargalhadas nada forçadas e, acreditem, fazia muito tempo que não me ria tanto!

As quatro talentosas e dinâmicas actrizes que dão vida às personagens são hilariantes, partilhando uma grande química entre elas e ninguém terá dúvidas que elas são amigas de verdade, e a empatia que criam com o público é imediata. Claro que todas têm o seu momento ou momentos na ribalta. Raquel Tillo surpreende tudo e todos quando aparece no papel da sua “maior que a vida” mãe, numa canção inspirada por clássicos da Broadway como “Roxie” e “Don’t Rain on My Parade”. Tânia Alves dá-nos uma divertida, por vezes desesperada, canção sobre o uso e abuso que os filhos fazem dela, por tudo e por nada chamando “Mãe”. Ana Cloe atira “a casa abaixo” com a sua “Xaran” e delicia-nos com o seu momento “blues”. Gabriela Barros é hilariante no seu inesquecível momento em câmara lenta (esta actriz é uma grande comediante física) e com a confissão que é a rainha das promoções. As quatro meninas são bem secundadas pelo trio de músicos, que lhes vão dando uma “mãozinha”.

A energia em palco é contagiosa e saí do teatro em puro estado de boa disposição! Aconselho a não perderem! Durante cerca de 90 minutos, esquecemos tudo e só tenho a agradecer ao elenco, ao Ricardo Neves-Neves e a toda a equipa por uma noite inesquecível!

Elenco: Ana Cloe, Gabriela Barros, Raquel Tillo, Tânia Alves 

Músicos: André Galvão, Artur Guimarães, Tom Neiva

Equipa Criativa: Texto e Canções: Sue Fabisch • Tradução e Adaptação: Henrique Dias • Encenação: Ricardo Neves-Neves • Tradução e Adaptação de Músicas: Henrique Dias e Miguel Viterbo • Direcção Musical: Artur Guimarães • Cenário: Catarina Amaro • Figurinos: Rafaela Mapril • Movimento: Rita Spider • Desenho de Luz: Luís Duarte • Assistente de Encenação: Diana Vaz • Produção: Força de Produção 

Classificação: 9 (de 1 a 10) / Fotos: Filipe Ferreira e Luís M. Serrão





quarta-feira, 6 de março de 2024

NÃO FUI EU de João Ascenso

A primeira vez que ouvi falar de João Ascenso foi no extinto Teatro Rápido (uma excelente ideia que merecia ser recuperada) onde era o encenador da peça “O Amor não é um Fogão” e percebi logo que era um nome a seguir. As suas peças que se seguiram nesse espaço e noutros provaram que eu tinha razão: “Seis... Quase Meia”, “Não Há Culpa”, “Adão e Eva”, “Um Ano Sem Ti” e “A Noite do Choro Pequeno”. Não vi tudo o que ele fez desde então, mas este “Não Fui Eu” mostra que ele continua em grande forma.

A história, uma espécie de “whodunit”, começa com um crime (em voz off) e os quatro suspeitos: o porteiro (desculpem, concierge) do hotel, uma cantora de ópera em fim de carreira, um, pouco convincente, nobre italiano e um suposto engenheiro meio trafulha. Cabe a quatro polícias descobrirem a verdade, com a ajuda do apresentador de televisão Fábio.

Não se assustem com a quase total ausência de cenário, pois ao fim de alguns minutos nem dão pela sua falta. Isso acontece quando, primeiramente: a encenação nos prende, segundamente: os personagens nos cativam, terceiramente: os diálogos são verdadeiramente engraçados e “quarteiramente”: o elenco está em estado de graça. João Ascenso encena com simplicidade, de forma fluída e tirando o melhor partido dos seus actores, que se deliciam com as suas palavras.

Ricardo Barbosa, o porteiro/concierge, e Margarida Moreira, a cantora de ópera, já tinham sido o “Adão e Eva” de João Ascenso e aqui voltam a divertir-nos como dois dos suspeitos: Barbosa também tem imensa graça como o polícia assexuado viciado em jogos e Moreira, na companhia de Francisco Beatriz, são os hilariantes apresentadores de televisão. Os outros dois suspeitos são o já mencionado Beatriz, o nobre italiano, e António Camelier, o engenheiro trafulha: Beatriz deita praticamente a “casa abaixo” como um polícia ninfomaníaco e  Camelier muda completamente de registo como um louco “guru” e como o “bruto” inspector da polícia. Juntos, este quarteto tem imensa química e estão em perfeita sintonia com o espírito da peça.

Esta peça é um antídoto aos tempos negros em que vivemos e acredito que, tal como eu, vão sair bem-dispostos do teatro. Por isso, larguem as redes sociais e o conforto do lar e vão ao teatro! Os actores e João Ascenso merecem o vosso aplauso!

Elenco: Ricardo Barbosa, Francisco Beatriz, Margarida Moreira, António Camelier

Equipa Criativa: Texto: João Ascenso • Encenação: João Ascenso • Desenho de Luz: Henrique Moreira • Assistente de Encenação: Rúben Brandão • Produção: Meia Palavra Basta – Associação Cultural 

Classificação: 8 (de 1 a 10)



















segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO de William Shakespeare

Esta encenação de Diogo Infante, da famosa obra de Shakespeare, une duas coisas que não me agradam muito. Primeira: é uma peça de Shakespeare, de quem nunca fui grande fã; as histórias são óptimas mas geralmente as encenações são demasiadas declamadas para o meu gosto. Segunda: é aquilo a que na Broadway e Londres se chama um “jukebox musical”, ou seja, um musical que usa (e por vezes abusa) de canções já existentes, tentando construir uma história à volta das mesmas ou integrando-as na sua história original. Portanto, duas fortes razões para me afastar desta peça, mas, a conselho de um amigo, lá decidi arriscar e... ADOREI!

A história, cheia de confusões e personagens, gira à volta do casamento de Teseu com Hipólita, para cuja boda é lançado um concurso de teatro. Ao mesmo tempo, quatro jovens lutam pelas suas paixões amorosas e o Rei das Fadas quer reconquistar a sua adorada Titânia, tudo sobre o olhar atento, gozado e distraído, de Puck.

Vi no cinema algumas adaptações desta peça, mas nenhuma tão boa quanto esta produção. Diogo Infante e a sua equipa tiveram a brilhante ideia de a transformar num delicioso festival musical onde diversas canções se adaptam perfeitamente à história, numa sucessão de números que nos conquistam o coração e tornam esta “noite de Verão” inesquecível. A encenação é gozada, imaginativa e com um ritmo contagioso (no final apetece juntarmo-nos ao elenco no palco). Confesso que já há muito tempo que não me ria tanto! O elenco é dirigido com mão de mestre e todos são excelentes, sem qualquer tipo de falhas.

Os momentos mais altos da noite são um divertido medley cantando por Helena e seus dois apaixonados e a hilariante encenação da peça dentro da peça! Nesta última Diogo Infante (super-divertido) e Flávio Gil (um dos melhores actores da sua geração), muito bem secundados pelos seus três colegas (JP Costa, Ricardo Lima e Artur Guimarães), são absolutamente geniais e o resultado é um verdadeiro festival de gargalhadas; acreditem que nunca mais vão esquecer a noiva!

Cristóvão Campos, Ricardo Raposo, Sara Matos e Mariana Pacheco são os quatro jovens que transbordam amor, ingenuidade e cantam com vigor e paixão. Miguel Raposo e Soraia Tavares divertem-se nos papéis duplos de Teseu/Rei das Fadas e Hipólita/Titânia; Tó Melo divide-se entre o “abichanado” pai de Hérmia e o chefe da trupe teatral. Como a fada principal, Sara Campina atira a “casa abaixo” com a sua voz, principalmente quando canta “Sol de Inverno”. Como as outras fadas, Catarina Alves, Mariana Lencastre, André Galvão, Artur Mendes, João Teixeira, João Valpaços e Tom Neiva são um talentoso e colorido grupo. Uma última palavra para o Mestre de Festas/Puck, interpretado com energia, graça e um requinte de traquinice por Carlos Malvarez.

Quanto à selecção musical não podia ser melhor, havendo um pouco de tudo: José Cid, Doce, Salvador Sobral, Simone de Oliveira, Paulo de Carvalho, Marco Paulo, Heróis do Mar e Amália, entre outros. A forma como canções tão diferentes se misturam entre si de forma harmoniosa e ligam com a acção é genial! Parabéns a toda a equipa e muito obrigado pelo excelente espectáculo teatral que me proporcionaram! A não perder!

Elenco: Miguel Raposo, Soraia Tavares, Carlos Malvarez, Cristóvão Campos, Ricardo Raposo, Sara Matos, Mariana Pacheco, Tó Melo, Diogo Infante, Flávio Gil, JP Costa, Ricardo Lima, Artur Guimarães, Sara Campina, Catarina Alves, Mariana Lencastre, André Galvão, Artur Mendes, João Teixeira, João Valpaços, Tom Neiva

Equipa Criativa: Texto: William Shakespeare • Tradução: Augusto Sobral • Encenação: Diogo Infante • Direcção Musical: Artur Guimarães • Cenografia: Fernando Ribeiro • Figurinos: Dino Alves • Desenho de Luz: Cristina Piedade • Movimento: JP Costa • Assistente de Encenação: Flávio Gil • Guarda-roupa: Inês Oliveira • Produção: Teatro da Trindade INATEL 

Classificação: 9 (de 1 a 10) / Fotos: Alípio Padilha






quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

O REGRESSO DE RICARDO III NO COMBOIO DAS 9h24 de Gilles Dyrek

Pedro Henrique é um empresário de sucesso com uma doença terminal. Há uns anos perdeu toda a sua família e o seu melhor amigo num acidente de avião e, como tal, nunca conseguiu resolver os problemas que teve com todos eles. Contrata então um grupo de actores para passarem uma semana com ele interpretando os seus familiares e amigo, pensando que assim irá poder aliviar a consciência antes de morrer... mas os actores improvisam e criam situações inesperadas pelas quais ele não esperava.

“Le retour de Richard 3 par le train de 9h24” começou por um ser um filme que estreou em 2019, realizado por Eric Bu e com argumento de Gilles Dyrek. Uns anitos mais tarde, também pelas mãos de Bu e Dyrek, é encenado nos palcos franceses, onde este ano foi nomeado para os prémios Moliere na categoria de Melhor Comédia. E agora chega a nós e é muito bem-vindo.

Uma comédia, por vezes dramática, onde a fronteira entre a vida real e o teatro se confunde, provando o velho cliché “que a vida é um palco”. Entre cenas caóticas, por vezes hilariantes, e outras dramáticas, Ricardo Neves-Neves vai-nos baralhando com graça, dando-nos um retrato de uma família disfuncional igual a tantas outras e onde é fácil reconhecermos pontos comuns com as nossas vidas. A peça é tanto sobre a família, como também sobre a vida de actor e a forma como as duas se fundem é o coração/alma desta peça.

Quanto ao elenco, está em estado de graça, onde todos, excepção para Adriano Luz como Pedro, interpretam papéis duplos: são os actores e os familiares. Confesso que quando a peça começa e, mais uma vez excepção para Adriano Luz, o elenco representa de forma exagerada, fiquei assustado..., mas depois percebi que tudo fazia parte da trama e respirei de alívio.

Começando por Adriano Luz, o seu Pedro é um homem solitário desesperado por fazer as pazes com a sua consciência. Os mais divertidos são Rui Melo, o actor que como o seu filho provoca o caos com as suas improvisações, e Susana Blazer, a esposa/actriz dada a grandes demonstrações de emoções. Como a irmã, Ana Nave é a actriz veterana em busca de trabalho e mais interessada no seu guarda-roupa do que na sua personagem; já Jessica Athayde, tenta encontrar motivação para representar a filha e não está muito certa se ser actriz é o seu destino. Miguel Thiré, o amigo brasileiro, acredita que têm que se entregar de corpo e alma aos personagens, mas também é importante ser um sedutor. Samuel Alves é o filho inicial que abandona a peça excitado com a hipótese de contracenar com Leonardo di Caprio, que mais tarde volta à história. Uma última palavra para Raquel Tillo, a nora odiada que demonstra toda a sua versatilidade como actriz ao dar nova vida à personagem da filha. Juntos dão-nos cerca de duas horas de boa disposição e de bom teatro, tendo sido com agrado que os aplaudi de pé!

Uma peça e um elenco que merecem a vossa visita. Por isso corram a comprar bilhete para este comboio, antes que o mesmo parta da estação!

Elenco: Adriano Luz, Ana Nave, Jessica Athayde, Miguel Thiré, Raquel Tillo, Rui Melo, Samuel Alves, Susana Blazer

Equipa Criativa: Texto: Gilles Dyrek • Tradução: Ana Sampaio • Cenário: Catarina Amaro • Desenho de Luz: Luís Duarte • Figurinos: Rafaela Mapril • Assistente Encenação: Sónia Aragão • Produção: Força de Produção • Encenação: Ricardo Neves-Neves

Classificação: 7 (de 1 a 10) Fotos: Joana Linda


sábado, 14 de outubro de 2023

THINGS I KNOW TO BE TRUE de Andrew Bovell

Um casal (ele um sexagenário no desemprego, ela uma enfermeira) com quatro filhos já bem crescidos veêm-se confrontados com a realidade da vida destes. Pip é uma mulher de sucesso disposta a deixar o seu casamento para viver uma nova paixão, Mark não se sente confortável no seu corpo masculino e está no processo de se tornar uma mulher, Ben quer aparentar ser tão rico como os seus novos amigos e não olha a meios para o conseguir, e Rosie viu o seu coração ser destroçado por um jovem e não parece saber que rumo dar à sua vida.

Escrita em 2016 pelo dramaturgo australiano Andrew Bovell, o texto não podia ser mais actual, falando de forma simples, mas com uma linguagem muito rica, de diversos temas com que facilmente nos podemos identificar. Esta família é tão real como as nossas e a empatia que se cria entre os personagens, vividas por um excelente elenco e nós, o público, é imediata. Utilizando o cenário único de um jardim de rosas, nas mãos do diretor António Carlos Andrade a história vai-se desenrolando sem sobressaltos perante o nosso olhar, num crescendo emocional que nunca cai na “lamechice” a que por vezes alguns dos acontecimentos se prestam. Andrade é um diretor de grande sensibilidade e com sentido de humor, duas coisas que servem na perfeição esta peça.

O The Lisbon Players tem-me habituado a ver sempre excelentes actores em palco e aqui não me decepcionaram, antes pelo contrário! Como os pais, Celia Williams e Mick Greer  não podiam ser mais credíveis e a química entre eles transborda para fora do palco. Quanto aos filhos, como Pip, Inês Herédia arrebata-nos a todos com a força que dá à sua personagem; como Ben, Martim Mesquita Guimarães dá-nos um personagem frágil, nervoso a quem, apesar das suas acções, apetece dar um abraço; Elizabeth Bochmann dá à sua Rosie a frescura de uma adolescente meio inocente que se vê obrigada a ter que crescer. Fiz questão de não ler o programa da peça antes de a ver, pelo que não sabia se o papel de Mark/Mia era interpretado por um homem ou mulher e, durante toda a peça, Eduarda Arriaga conseguiu a proeza de me deixar na dúvida até ao fim. As dores e alegrias de todos eles tocam-nos no coração e foi muito bom estar na sua companhia.

Eu sei que a peça é falada em inglês, mas é daqueles que merece a vossa atenção e acreditem que, se a forem ver, terão uma excelente noite de teatro!

Elenco: Eduarda Arriaga, Elizabeth Bochmann, Mick Greer, Inês Herédia, Martin Mesquita Guimarães, Celia Williams

Equipa Criativa: Texto: Andrew Bovell • Encenação: António Carlos Andrade • Assistente Encenação e Coreografia: Cori Anne Simões • Cenário: Alexandra Bochmann • Desenho de Luz: Miguel Cardoso • Stage Management: Guilherme Bonito & Marta Nagy • Poster: Beatriz Silva • Produção: The Lisbon Players 

Classificação: 8 (de 1 a 10) 





domingo, 1 de outubro de 2023

2:22 – UMA HISTÓRIA DE FANTASMAS de Danny Robins

Um casal muda-se para a sua nova casa com a sua filha bebé e, enquanto o marido vai passar uns dias fora em trabalho, a mulher começa a ouvir um fantasma às 2:22 da madrugada.  Quando ele regressa, descrente da história dela, realizam um jantar com um casal de amigos, para que estes testemunhem ou não a assombração. Para que isso aconteça combinam ficar juntos até à fatídica hora: 2:22.

A grande questão que esta peça levanta é simples, acreditam ou não em fantasmas? Será que já passaram por experiências que não sabem explicar? E se passaram, conseguiram que acreditassem em vocês? Por acaso a minha resposta é afirmativa a estas perguntas, mas isso agora não interessa nada.

Estamos perante um texto muito bem construído, repleto de humor e com um quarteto de personagens bem verosímeis que depressa captam o nosso interesse e com quem aguardamos, com prazer, a chegada da hora maldita – 2:22. Até lá rimos muitos, apanhamos alguns bons sustos e saímos satisfeitos da sala, decididos a cumprir um pacto que fizemos entre todos.

Para terminar, breves comentários aos excelentes actores. Ana Cloe convence como uma mulher assustada, desesperada e frágil, para quem é importante que o marido acredite nela. Como o seu arrogante e descrente marido, Pedro Laginha é verdadeiramente insuportável de tão irritante que é. Joana Seixas é excelente como a amiga que sempre guardou um segredo e para quem um copo nunca é demais. Por fim, João Jesus é perfeito como o simplório, limitado, básico e espiritual acompanhante da amiga.

Uma boa noite de teatro que aconselho a não perderem e pode ser que saiam de lá a acreditar em fantasmas... ou talvez não!

Elenco: Ana Cloe, Joana Seixas, João Jesus, Pedro Laginha

Equipa Criativa: Texto: Danny Robins • Tradução: Ana Sampaio • Cenário: Susana Fonseca • Desenho de Luz: Miguel Cardoso • Assistente Encenação: José Chaíça e Maria Camões • Produção: Força de Produção • Encenação: Michel Simeão

Classificação: 7 (de 1 a 10) Fotos: Joana Linda




terça-feira, 4 de abril de 2023

DOIS + DOIS de Daniel Cúparo & Juan Vera


Dois casais, amigos de longa data. Um deles (Miguel Raposo e Ana Cloe), todo “mandado pra frentex”, descobrem o “swing” de casais e com isso a sua relação sexual e amorosa fica muito melhor. O outro (José Mata e Jessica Athayde), mais conservador, cuja relação não anda muito bem. Os primeiros conseguem convencer os segundos a brincar ao “swing” entre eles, com resultados imprevisíveis para todos.

Sempre fui apologista de se falar de coisas sérias a brincar, pois é a melhor forma destas serem absorvidas e melhor aceites. Assim, com humor, esta peça fala de algo que acredito acontecer a todos os casais, seja lá qual for a sua orientação sexual. A questão que coloca é se é possível manter a paixão numa relação já com longa duração e se esta poderá sobreviver a uma maior abertura sexual por parte do casal.

Na peça, o casal “libertino” diz ao casal “conservador” que para que o “swing” funcione sem problemas é necessário que entre conjugues as coisas estejam bem, caso contrário poderá não ser bom. Entre dúvidas e receios, os personagens acabam por colocar a sua amizade e relações em risco, mas sem falsos moralismos e com a prerrogativa de que cada um sabe de si e do que poderá ou não aceitar.

As gargalhadas são muitas e o diretor Miguel Thiré consegue o equilíbrio certo entre a pura diversão e a intimidade incomodativa. A dar vida aos personagens um quarteto de actores divide o palco entre si, sem rivalidades e com graça. O conservador José Mata é hilariante após uma consulta ao dentista e o seu nervosismo é contagiante; a sua esposa Jessica Athayde revela-se uma nova pessoa quando passa de “lady” a uma mulher sexualmente desperta. Miguel Raposo e Ana Cloe partilham uma química incrível, espalhando “chamas” e gargalhadas, tanto como o casal “libertino” bem como os divertidos anfitriões de encontros “swing”; são um casal irresistível e Cloe tem um inesquecível número musical.

Se gostam de rir, se não se importam de pensar um pouco e de, talvez, se sentirem um pouco incomodados, não percam esta peça. Estou certo de que muitos casais se vão rever nestes personagens e vão começar a pensar (se é que já não o fazem) em praticar “swing”, mas cuidado nem todos somos talhados para estas aventuras. Pessoalmente, adorei rir e sentir-me incomodado!















Elenco: Ana Cloe, Jessica Athayde, José Mata, Miguel Raposo

Equipa Criativa: Texto de Daniel Cúparo & Juan Vera • Tradução de Ana Rita Sousa • Adaptação: Miguel Thiré e Mafalda Santos • Cenário de Aurora dos Campos • Figurinos de Andy Dyo • Desenho de Luz de Tomás Ribas • Tema Original por Ana Cloe • Assistente Encenação: Joana Castro • Assistentes de Cenografia: Saulo Santos e Raquel Merlino • Produção de Força de Produção • Encenação de Miguel Thiré

Classificação: 8 (de 1 a 10) Fotos: Joana Linda




sábado, 3 de dezembro de 2022

QUIZ de James Graham

Se, ao contrário de mim, são fãs do “Quem Quer Ser Milionário?”, provavelmente estão a par do escândalo que aconteceu na versão inglesa do concurso em 2001, quando um concorrente, vencedor de um milhão de libras, viu-se indiciado de fraude e viu a sua esposa e um estranho serem acusados de cumplicidade. O seu nome era Charles Ingram, um Major do Exército Britânico.

Esta peça escrita em 2017 por James Graham, presentemente em exibição no Teatro Maria Matos em Lisboa, é baseada nesses eventos e a acção desenrola-se entre o estúdio de televisão, o tribunal e a casa dos Ingram. Nela, nós os espectadores, somos convidados a ser jurados no caso.

Confesso que fiquei um pouco decepcionado, pois convenci-me que ia ver uma comédia e não é esse o caso. A peça é uma crítica à sociedade em que vivemos e, o seu aspecto mais interessante, ver como facilmente a nossa percepção das coisas é manipulada por factos e argumentos que podem ou não ser verdadeiros. Somos convidados a dar o nosso veredicto no final do 1º acto e ao final da peça, e é curioso observar como este se adapta às circunstâncias apresentadas.

O elenco desdobra-se por várias personagens de forma convincente e equilibrada, com destaque para Dinarte Branco como Charles e Sílvia Figueiredo como sua esposa, bem como para Custódia Gallego como a advogada de defesa.

Elenco: Custódia Gallego, Dinarte Branco, Diogo Dória, Diogo Valsassina, Hugo Mestre Amaro, Martinho Silva, Rodrigo Saraiva, Rui Melo, Samuel Alves, Sílvia Figueiredo, Sónia Aragão

Equipa Criativa: Texto de James Graham • Tradução de Ana Sampaio • Cenário de Stephane Alberto • Figurinos de Dino Alves • Desenho de Luz de Luís Duarte • Música/Sonoplastia de António Miguel Santos • Video por BairroUp Filmes • Produção de Força de Produção • Encenação de António Pires

Classificação: 5 (de 1 a 10) 




quinta-feira, 7 de julho de 2022

MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS de Pedro Almodóvar

O filme de 1988 é um dos meus preferidos do Pedro Almodóvar e quando o vi apaixonei-me pelas personagens e achei a história hilariante. Quando uns anos mais tarde, em 2010, estreou nos palcos da Broadway a versão musical do mesmo, fiquei muito curioso e, com muita pena minha, não a pude ir ver. A peça não teve grande sucesso, tendo estado em exibição poucos meses e, quando foi editado o seu “original cast recording”, não fiquei convencido com as canções.

Avanço no espaço e tempo, e eis que o musical chega a Lisboa pela mão confiante e experiente de Filipe La Féria. Claro que fiquei entusiasmado com a ideia e lá fui até ao Teatro Politeama para redescobrir a obra de Pedro Almodóvar em versão Broadway à portuguesa.

Para quem não saiba, sem querer revelar muito, a história gira à volta de Pepa, uma actriz que é abandonada sem razão aparente pelo seu amante Ivan. Entretanto, a ex-mulher deste persegue-a com sede de vingança, uma amiga de Pepa apaixona-se por um terrorista e Carlos, o filho de Ivan, procura casa com a sua frígida namorada (ou será a criada?). Para ajudar à festa, temos ainda uma advogada senhora do seu nariz, uma beata testemunha de Jeová e um taxista loiro platinado.

O espectáculo custa a arrancar e o número de abertura precisava de “salero”, mas julgo que o defeito vem da versão da Broadway. A produção é cuidada e bem oleada, sem pontos mortos, levando a história a bom porto, se bem que o final sabe a pouco. Mas senti a falta do humor e da loucura sem rédeas de Almodóvar, ou seja, parece uma versão domesticada da sua obra. Estão cá as cores de Almodóvar, mas falta a sua irreverência. Presumo que o musical original sofresse do mesmo mal. Falta-lhe o espírito madrileno e as imagens projectadas podiam ser mais criativas.

Em relação às canções, que têm pouca batida espanhola, La Féria teve a ideia genial de dar um tom fadista às canções de Pepa e talvez tivesse feito sentido a acção passar-se em Lisboa e, em vez de gaspacho, podíamos ter uma boa sangria. Os números dançados, apesar do talento dos bailarinos, são meramente decorativos e podiam ter sido, na maioria dos casos, dispensados; isto é estranho vindo de mim, pois adoro dança. Também não percebi por que razão é que num dos números de Ivan (Carlos Quintas, bem, mas igual a si próprio) as bailarinas estão vestidas como as “Les Girls” do Gene Kelly, mas presumo que é uma piscadela de olho cinéfila por parte de La Féria. 

Mas o melhor e a razão por que aconselho uma visita ao Politeama, são as mulheres em palco. Destaque inevitável para a fantástica Paula Sá que, com a sua simpatia natural e uma forte presença no palco, tem a plateia rendida aos seus pés. Há uns anos tive o prazer de descobrir esta excelente actriz/cantora num concerto intimista chamado “Os Homens da Minha Vida” e só posso dizer que ela está cada vez melhor! A sua Pepa está cheia de vida e a sua voz deita a casa abaixo. A seu lado, Rita Ribeiro é a louca e melodramática ex-mulher de Ivan e prova que continua em excelente forma. Para mim, Bruna Andrade foi uma verdadeira revelação como a sexy e divertida Candela, a modelo amiga de Pepa que depressa cativa a simpatia do público. Do lado masculino, outra revelação para mim, Filipe de Albuquerque; o seu Carlos (filho de Ivan) é pleno de graça e é uma pena que não cante mais.

Não é o grande musical que esperava, nem o melhor que vi de La Féria, mas são cerca de duas horas bem passadas e o elenco merece a vossa visita.

Elenco: Paula Sá, Rita Ribeiro, Bruna Andrade, Filipe de Albuquerque, Carlos Quintas, Élia Gonzalez, Filipa Cardoso, João Frizza, Fernando Gomes, Rosa Areia. Samuel de Albuquerque, Paulo Miguel Ferreira, Jonas Cardoso, Paula Marcelo, Paula Ribas

Equipa Criativa: Texto de Jeffrey Lane baseado na obra de Pedro Almodóvar • Música e Letra de David Yazbek • Tradução de Filipe La Féria, João Frizza e Filipe de Albuquerque •  Direcção Musical de Miguel Camilo e Miguel Teixeira • Coreografia de Marco Mercier • Adaptação, Encenação, Cenografia e Figurinos de Filipe La Féria

Classificação: 6 (de 1 a 10) / Fotos: Rui Ochoa






terça-feira, 5 de julho de 2022

LAR DOCE LAR de Luísa Costa Gomes

Se, como eu, são fãs do Joaquim Monchique, não vão querer perder esta comédia teatral, onde ele e Maria Rueff dão vida a duas idosas e velhas amigas, que partilham um quarto numa residência sénior para gente rica. Quando sabem que a melhor suíte da residência ficou disponível, pois a sua anterior ocupante faleceu, fazem tudo por tudo para ver qual das duas é que consegue ficar com a suíte.

Nesta divertida comédia, que teve a sua estreia em 2012 (não vi nessa altura), o importante não é tanto a história, mas sim as peripécias que se desenrolam em torno da mesma, numa sucessão de diálogos hilariantes, cheios de graça e, onde a rir, se dizem muitas verdades e, felizmente, o politicamente correcto está ausente da equação.

Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido pela interpretação de Maria Rueff. Há muito tempo que sou fã incondicional do Monchique, mas apesar de achar graça à Rueff e saber que ela é uma talentosa atriz, acho-a por vezes um pouco irritante e estava com algum receio que fosse embirrar com ela. Mas nada disso, ela é simplesmente brilhante e juntamente com Monchique são um verdadeiro “furacão” de talento e graça. Ambos se desdobram “magicamente” em vários papéis, dando-nos uma colorida galeria de personagens. Sim, perto do final, quando reina o caos em palco, é capaz de haver alguma batota, mas não tem importância nenhuma.

O encenador António Pires mantém o ritmo de início ao fim, numa sucessão de gargalhadas e boa disposição, que tanta falta fazem hoje em dia. Sem dúvida uma peça a não perder!

Elenco: Maria Rueff, Joaquim Monchique

Equipa Criativa: Texto de Luísa Costa Gomes • Cenografia de F. Ribeiro • Desenho de Luz de Paulo Sabino • Figurinos de Dino Alves • Encenação de António Pires

Classificação: 8 (de 1 a 10) / Fotos: ?