terça-feira, 8 de janeiro de 2013

TEATRO RÁPIDO JANEIRO 2013: PROMESSAS


O Teatro Rápido, que ganhou o Corvo de Ouro da Time Out como “Novidade do Ano 2012”, começa 2013 com PROMESSAS. É esse o tema deste mês de Janeiro e nas suas quatro salas podem encontrar-se vários tipos de promessas. A avaliar pela diversidade das apostas, este ano o TR promete continuar a entreter-nos e a surpreender-nos.

Já alguma vez pensaram no que uma simples acção nossa pode provocar? O chamado “efeito borboleta”, onde o facto de fazermos ou não qualquer coisa terá com certeza consequências para outra pessoa. É essa situação que é explorada em BOLAS DE NEVE, a peça em exibição na Sala 1. Uma mulher vê-se fechada num compartimento sem saber porquê, enquanto o seu carcereiro lhe explica as razões que a levaram ali; tudo tem a ver com acções que ela praticou no passado e que mudaram a vida de algumas pessoas de forma trágica. A situação é pesada, mas o texto de Susana Romana é rico em humor negro proporcionando-nos 15 minutos de boa diversão, com uma simples e segura direcção de Bernardo Gomes de Almeida. No elenco, Ricardo de Sá é um assertivo carcereiro, que nunca perde a compostura ou o humor; como a “vítima”, Ana Varela consegue transmitir-nos a sua aflição apenas com a voz e um eficaz jogo de sombras. Uma boa e divertida aposta para começar o ano no TR!

Ao entrar na Sala 2 deparamo-nos com uma cena digna de um filme erótico e depressa percebemos que o mundo do PROFESSOR ROBERTO não é para pessoas mais sensíveis. Este professor tem uma paixão doentia por uma menina, a quem roubou a inocência. Por sua vez ela só sente nojo dele. O tema da pedofilia é aqui abordado de forma violenta e chocante, mas nunca gratuita, tornando por vezes difícil a visão desta peça. A encenadora Susana Vitorino não fugiu ao lado mais duro do tema, muito antes pelo contrário, aqui tudo é aquilo que parece, sem receios de mostrar as coisas como elas são. Já nos seus trabalhos anteriores no TR, Susana tinha revelado ser uma excelente directora de actores e aqui excedeu-se. Como a “menina”, Sofia Helena tem uma presença frágil e quase se consegue cheirar o seu medo e sentir a sua vergonha. Como Prof. Roberto, Rafael Dias Costa, que também é o autor do corajoso e forte texto, é fenomenal; ele é nojento, respira desejo por todos os seus poros e consegue fazer-nos odiá-lo. Ele trata a sua “menina” como se ela fosse um boneco (um roberto) nas suas mãos e, graças a ele, a gelatina da minha infância vai passar a ter uma conotação negra. Não me surpreenderia se um dia destes algum espectador mais sensível o agredisse, tal é a qualidade da sua interpretação. Uma peça brutal, com um cartaz eficaz. Das melhores que vi até hoje no TR! A não perder!

Com a ajuda de uma lanterna entramos na escuridão da Sala 3, onde encontramos uma vagabunda que perdeu (ou não) a sua aliança de casamento. Ela recorda-se que no dia do seu casamento o padre disse ao seu noivo PODE BEIJAR A NOIVA e que prometeram amar-se para sempre, mas a vida dá muitas voltas, certo? Maria Carson entrega-se de alma e coração a esta personagem torturada, por vezes doce, por vezes raivosa. O texto de Tiago Torres da Silva é mais um retrato da crise económica, politica e social que se vive actualmente, bem escrito mas que nada de novo acrescenta à mesma. O que eu mais gostei foi do interessante jogo de luz e sombra provocado pelo uso das lanternas.

Não sou muito dado a peças poéticas, por isso sou a pessoa errada para falar de DIAGONAIS, a peça que está em exibição na Sala 4. Nesta, um homem e uma mulher, que já tinham tido uma relação, parecem mais afastados que nunca; sobre as suas cabeças, um par de sapatilhas de ballet parece assombrar sua relação. Confesso que não percebi muito bem o que se passava mas, fosse o que fosse, não me fez sentir nada. Cátia Terrinca, que se contorce praticamente o tempo todo, e Francisco Sousa, que nunca muda de expressão, são o casal disfuncional a quem não foi pedido que criassem qualquer tipo de emoção ou ligação com o público. Lamento, mas decididamente não é o meu tipo de peça.

Quatro apostas diferentes, capazes de agradar a vários tipo de público. Como devem ter percebido, a minha preferida é o PROFESSOR ROBERTO, com um inesquecível Rafael Dias Costa. Também recomendo a deliciosamente negra BOLAS DE NEVE. Em Fevereiro há mais.

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